Não admito!

Não admito que eu trate as pessoas "de fora" de minha casa melhor do que trato a minha família. Devo, no mínimo, tratar com o mesmo carinho, atenção, respeito e admiração.

Não admito que eu fale com as pessoas educadamente e fale com minha esposa e filhos como se fossem quaisquer pessoas. Não me permito ser gentil com estranhos enquanto solto palavras torpes ao falar com meus familiares.

Não admito que eu faça esforços físicos, financeiros ou materiais pelas pessoas em geral enquanto me estendo preguiçosamente em meu sofá vendo minha família lutar.

Não admito que eu ore por tantas pessoas enquanto não oro por minha própria casa. Não admito que eu dedique tanto tempo para as pessoas e diga que não tenho tempo para meus familiares.

Não admito que eu dedique o melhor do meu tempo, dos meus recursos, de mim mesmo para as pessoas, e deixe o resto (de mim mesmo) para a família. Não me admito chorar com os outros sem chorar com os meus. Não me admito rir com os outros e ser mal humorado com minha família.

Não admito que eu elogie as pessoas por suas qualidades e conquistas enquanto fecho os olhos e a boca, não elogiando verbalmente e não reconhecendo com palavras e ações as conquistas, as qualidades e as virtudes de meus familiares.

Não me permito ter misericórdia com os erros dos outros e ser rigoroso ao extremo com minha família. Não admito que eu ofereça oportunidades de mudança a tanta gente e não ofereça à minha família. Não admito que eu perdoe as falhas das pessoas e não perdoe as falhas de meus familiares.

Não admito que eu tenha coragem para defender meu time do coração e não tenha coragem para defender meu matrimônio, meu casamento.

Não admito que eu dê carona para tanta gente (às vezes desconhecida) e não possa levar minha esposa no cabelereiro e meus filhos na escola. Não posso admitir que eu me divirta com amigos enquanto condeno minha família à solidão e ao tédio. Não admito dar presentes para pessoas queridas e importantes e não dar presentes para as pessoas mais queridas e importantes da minha vida.

Espero que você esteja entendendo o sentido deste texto pastoral. Não estou defendendo a acepção de pessoas, não estou defendendo que devemos tratar as pessoas de modo diferente e nem que sejamos seletivos nas relações pessoais com quem quer que seja.

A Bíblia nos ordena que tratemos bem a todas as pessoas (Gl 6:10), mesmo os que nos tratam mal (Rm 12:17; 1 Ts 5:15; 1 Pe 3:9), porém percebo, com certa frequência, que as pessoas (eu também), tem a tendência de, com o passar do tempo, tratar de qualquer jeito os próprios familiares, enquanto dedicam gentilezas para os amigos e estranhos.

É disso que o texto trata. Quero chamar a sua atenção para esse comportamento (há exceções, é claro). Quero incentivá-lo(a) a dedicar o melhor de si mesmo a todas as pessoas, mas especialmente e principalmente à sua própria família: "Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente" (1 Timóteo 5:8).

Sei que falho muitas vezes, mas não me permito, não me admito tratar minha família, minha esposa, meus filhos, meus pais, meus irmãos, meus sobrinhos, com menos atenção e cuidado do que as outras pessoas (que são queridas também).

Devemos começar uma mudança já. Podemos mudar nosso comportamento, podemos melhorar, podemos cuidar melhor, podemos sorrir mais, podemos conduzir nossa vida familiar com mais dedicação.

Acredito que essa simples atitude pode mudar uma família. Viver em família com mais leveza significa tornar nosso lar um refúgio contra as loucuras do mundo. Tratar bem nossos familiares significa fazer do nosso lar um lugar desejado, um lugar querido, de relações profundas, amáveis e verdadeiras.

Tratar bem nossos familiares significa abrir as portas dos relacionamentos para que Jesus entre, significa criar um ambiente espiritual dentro de casa para que as palavras que transmitem graça (Ef 4:29) sejam prósperas e abundantes, significa que gestos e atitudes serão marcados pelo amor de Deus, o nosso Deus, o Deus de nossa família, o nosso Pai.

Que Deus te abençoe e abençoe sua família.


Conheça o livro Quando a gente muda

Contato e comentários: danielglimajr@gmail.com

Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional

Crédito da imagem: Made With Paper by tomaskopecny

Tags